Vai.
Que a dor me toma o peito,
alarda, funda e sem jeito,
e me grita 'inda em tempo:
Corre!
Que
se aqui dentro a dor é branda,
é que, dentro, ainda andas e.
Vai!
Que
a dor maior que existe
é aquela que insiste
em viver assim tão só
que se dói
é porque vive
e a vida é maior
Melhor, Sai!
Que
não morras aqui dentro
-miúdas!
em mais um eu que aqui jaz
Que
lá fora o pulso é firme
que lá fora dói bem mais
vivas dores, viva Dolores!
Que nem sempre os vivos vivem
e tão pouco morrem os mortos
Que nem sempre a morte é triste
E quem dirá feliz a sorte
desses mortos
que ainda vivem
sem sentir o pulsar forte
Desses vivos,
que sem pão
que sem cama
que sem teto
que sem tato
que sem olhos,
que só sentem
que só amam
que só fazem
que só cantam
que só no duro,
na raça,
na vida
em desgraça,
sorriem,
que, só, nunca estão.
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