sábado, 23 de janeiro de 2010

Tamanho? É relativo.

- Bom dia, procura pelo o que?
- Um mochilão, grande mas nem tanto...eu que tenho que carregá-lo.
- Você?! hum... grande mas nem tanto né?

E o homem de bigodes- sempre duvidei de homens de bigode, em especial esses no estilo 'Salvador Dalí' - lançou um risinho irônico no ar, transparecendo seu pensamento claro e provocativo de quem diz ''minha querida, pra você uma pochete bastaria''.
E a arte de levantar uma só sobrancelha seria enfim útil, criando a expressão facial de resposta mais eficaz no momento. Tá que sou pequena, mas aguentar sarcasmos de um bigode como aquele era pedir demais. E esperei uns 15 minutos, como que se demorasse tanto assim para encontrar um mochilão 'nem tão grande assim'.

-Só temos esse verde.

Eu preferia vermelho, mas que se dane; Desde que coubessem lá dentro minhas manias, vícios, planos e idéias, tava tudo certo. E lá estava eu. Na porta de saída para uma rua mais movimentada impossível, com um mochilão embrulhado em uma sacola visivelmente vergonhosa e desproporcional, disfarçando uma vergonha ainda maior lá dentro embrulhada.
(...)

-ah, filha...até que tá bonitinho.

''até que tá bonitinho'' em boca de mãe, se conforme, está no mínimo ridículo, uma desgraça completa. Era inacreditavel que aquele fosse o menor tamanho digno de um mochilão porque era visivelmente indigno de uso social. Mas não tinha mais tempo, nem dinheiro, muito menos disposição pra procurar outra coisa. Era isso, era aquele, o tão esperado mochilão que me acompanharia nas minhas viagens pelo leste europeu, deserto do Atacama e Indonésia? Não sei, mas pro Sul do país seria ele próprio, com todo seu tamanho e estilo, o meu companheiro. Mas não tenho problemas com isso, ou quase não. Mais um pouco e já o achava lindo, perfeito e praticamente compacto, ninguém me convenceria que não, nem mesmo o ''bonitinho'' vindo de minha mãe.

Na rodoviária, olhares desconhecidos se concentravam em minhas costas, não sei porque mesmo. Um garoto indiscretamente boquiaberto merecia uma caprichada sobrancelha levantada pra responder a pergunta que estava escrita em sua testa: "Que-porra-é-essa?!". E, na minha cabeça, eu começava a ouvir uma voz sarcástica e um risinho cínico, típico de vendedor de bigode, "nem tão grande assim né?''. Mas mal sabia ele, como todas aquelas pessoas, que na verdade o mochilão era pequeno pro que eu precisava. Foi preciso dobrar bem, enrolar, apertar e pular em cima para que coubessem ali dentro todas as minhas manias, vícios, planos e idéias.

4 comentários:

  1. Não precisa nem falar da capacidade de carregar mais (muito mais) que o necessário pra viagem. Só por esse texto o mochilão já merece uma promoção: deixa de ser "até que é bonitinho" e a passa a "maravilhoso"!!!

    Regina

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  2. Vc escreve bem para caraca!!!!!!!!


    Magnifíco texto!!! De idéias e conexões. Muito bem, minha cronista. Vc está pronta. Mande bala!!! E se precisar mesmo, erga a sobrancelha. Uma de cada vez....

    Beijos minha Flor!!! TAIA!!!!!!!!

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  3. Dupla!
    To adorando ler suas crônicas. Eu lembro quando você fez esse blog e como foi difícil a gente arrumar nomes legais. Hahahaha
    Saudades.

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  4. Como eu não vi essa coisa?! haha


    E o pior dos "mochilões pequenos" (?!): na volta de cada viagem, a bagagem sempre aumenta, em manias, vícios, planos e idéias.

    =)

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