domingo, 17 de fevereiro de 2013

No vão do acaso

Na intermitência de tudo o que se partilha mora sozinho o silêncio. Os gritos em vão, o vão da memória, coincidências intrusas que irrompem da casualidade fortuita. Sorte a minha ter te conhecido. Por conta de um dia, de segundos, de no mesmo século nascidos. Tanto do século como do cão, que atropelado na rua parou o trânsito, impedindo minha mãe de conhecer o homem com quem se casaria. Conheceu, então, meu pai. Obrigada ao século e muito obrigada ao garçom, que trouxe o prato errado e atrasou os minutos até meu pai chegar. E aí eles se esbarram. E graças ao século, ao cão, ao garçom, ao salto bambo da sandália, o tropeço que me permitiu conhecer você. E quando mesmo conhecidos não somos capazes de cruzar nossos silêncios, a dor se faz. A dor é um papel amassado, um bilhete que não se vê, o desperdício contínuo de acidentes, falhos e meramente excepcionais, que só queriam te trazer até mim.


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