O sr. me encarou com essa cara de quem conta os segundos até a língua mexer outra vez. Perguntou o que quer dizer uma especialização em “cortar raízes por abrigos temporários” e em como isso poderia ser útil para o negócio deles. Tentei explicar como pude e juntei numa mesma frase alguma coisa sobre fé e o movimento dos moinhos de Alkmaar, responsáveis por 84% de toda energia gerada na cidade. O sr cagou pra minha fé e também para os moinhos de Alkmaar, mas bem gostou da porcentagem, que eu vi: abriu um sorrisinho no canto da boca que durou menos tempo do que aquela peteca de penas tortas e coloridas no ar. Me agarrei ao sorrisinho. Então o sr gosta de número, sr? De que números o sr gosta? Prefere um três assim ou um nove assado? Como foi o seu primeiro grande número, sr? A boca do sr. tremeu, ele alargou um pouco o nó da gravata e pediu pro garçom aumentar a temperatura do ar condicionado. “voltemos ao que interessa”, seguiu vociferando meu currículo.
-O que quer dizer B1?
-Como?
-“Em 1998, ganhei um B1”.
-Ah! B1. Um dos irmãos Banana de Pijama.
O sr piscou. Eu cantei.
-Bananas. De pijamas. Desceeendo as escadas. Bananas... não?
Não. Tem terrenos que não foram feitos para adentrar: bananas de pijamas, jograis, certas saudades.
Continuei.
-Na verdade, não sei se eles eram irmãos. Eles eram só bananas iguais e tinham pijamas listrados iguais e quem tem pijamas iguais se não irmãos gêmeos filhos de pais obsessivos, não é mesmo? Ou então aqueles casais, avós ou políticos, que compram tudo que é conjunto de seda e cor creminha. O sr. tem irmão gêmeo, sr?
O sr. me olhou e eu era um bicho de sete cabeças. Um bicho de pijamas listrados, todo feito de número engasgados. O sr ergueu o braço e gritou pro garçom uma equação inteira, sem gelo, por favor.
O garçom entendeu e aumentou o volume do rádio: https://www.youtube.com/watch?v=TgeF4V_NsbE
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