segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Luminescências

É silêncio, e mais uma vez ela teima. Teima em vir, como quem não vê, como quem não quer, como que se não soubesse que, não mais muito, me teria por completo. Chega aos pouquinhos, e sem cerimônia convida-me à insônia. Ela, que não tem nome e não tem tempo. Sua identidade é minha pausa, meu gole de vida.

"Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue". E eu aceito, então, o seu convite. Paro. E é, na verdade, quando começo a ir. Parto em minhas viagens noturnas, vagueio por entre rostos, e penso em gente que não me conhece. O que dizia o barulho do motor acelerado a meu lado? E o senhor intrigado no banco da praça, que não soube o quanto, por segundos, me intrigaram suas rugas? Teria cada qual uma história, ou apenas respostas a uma escassez duradoura de pausas tardias? Nesses devaneios, cruzo caminhos longínquos sem deixar rastros, e me pergunto quantos se aventuram por suas trilhas.

Mas continuo caminhando. Desentendo o porque, entre tanta gente, conhemos algumas, mas exatamente estas algumas. E delas, tão poucas são as que nos despertam a nós mesmos. Penso no risco que é se doar a uma conversa. No risco que é admitir importância e conferir carinho. No risco do esquecimento em uma embriagez de cinco minutos. Penso no risco que é insistir na coincidência desse pouco do pouco de gente que pode carregar um tanto de nós. Não entendo a afinidade, mas agradeço a sintonia de pensamento e a troca de olhares. Algumas desperdiçadas, por falta de risco, pela ausência da pausa.

Mas não seria a pausa, em sua essência, a própria ausência? A ausência da fala, o intervalo do pensamento, o recuo do passo? A ausência da ausência vem então como nula, porque a pausa não é interromper. Interromper pode ser continuar.

Então me percebo tão nela, nessa tentativa de desprendimento. E me desprendo sem medo, me espalhando por pensamento. Sei que o sentido está na finitude, e sinto. Me desprendo, então, também dessa pausa, dessa fração do tempo que nos clama ao lúdico, e em paradoxo profundo, nos leva à maior realidade: Nossa insignificância diante de tudo. E aí, e só aí, que acordo para a significância da vida.

2 comentários:

  1. Como esse texto maravilhoso pode estar sem comentário algum? Tenho andado muito desnaturada mesmo...
    É um dos seus textos que eu mais gosto, me lembra tantas conversas nossas intermináveis.
    Com as palavras você torna tudo bonito, até as angustias!

    Estou pra ver ainda alguém que deteste tanto se prender as coisas e ao tempo quanto você, ainda bem que você vai trabalhar em casa escrevendo roteiros e montando seu próprio horário, Braulina hahaha

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  2. Poucas pessoas tem o dom de falar sobre o intangível!As Universidades te dão conceitos para que se baseie no que é exato.E o que não é?
    Quem fala do que é vasto?Pessoas com sensibilidade incontrolável...rs
    Essas,ninguém fabrica,a não ser Deus,a vida,a natureza e suas ironias...
    Parabéns Pichula do Agreste
    Thiago Dnardo

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