segunda-feira, 20 de abril de 2009

Frágil coração.

-Tia, me dá um real?

Os olhos, força maior do menino, fixos no coração de cristal. Era um pingente raro, e o meu colo já havia se acostumado com ele. Um cordão de ouro, leve, quase não pesava, carregava o coraçãozinho transparente no meu pescoço.

Uma criança, eu e três corações.

-Não tenho um real.

Saliva gasta, eu sabia. Minha e dele (também não interessava a ele nenhum real naquele momento).

Tentei me afastar do rosto alucinado, que da altura do meu pescoço não passava. Dois passos e a aluninação, até então do menino, parecia ter vindo para mim. Os arcos da Lapa continuavam sobre nós, o vendedor do podrão a dez metros, o ''tunz-tun-tun-tun-tunzt-tun'' massacrante, sincronizado com a sirene vermelha que piscava, embalava dois policiais que"curtiam a boemia carioca''. Um segundo, e o rosto de dez anos se multiplicara em oito. Dez corações em uma só cena e todas as mentes focadas em um só, o menos importante dali.


Uma mão, um espanto, um grito e o cordão arrebentado. Dois corações atingidos de uma só vez. O primeiro perdido no chão, em uma rua qualquer, sabe-se lá o destino. O segundo, ferida mais grave, perdia a esperança na vida da criança, perdida no chão, em uma rua qualquer, sabe-se lá o destino...

3 comentários:

  1. Não sei o que comentar, Maíra. Só queria que você soubesse que eu li e que acho que você escreve bem pra caramba. Acho que esse post é um tapa na nossa cara.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Nossa Má!
    Sem palavras, você escreve muiiito bem!

    Impressionante, maravilhoso.

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